"Um pedaço de pão comido em paz é melhor do que um banquete comido com ansiedade"
Esopo
É com esta frase que somos brindados quando entramos no restaurante Cordel, situado em Coimbra na margem esquerda do rio Mondego. Apresenta uma excelente relação qualidade - preço. Não são só os doces que nos fazem perder a cabeça, os petiscos e o peixe também. Degustei um prato com robalo, o meu peixe preferido, de comer e chorar por mais. E a doçaria? Que boa surpresa! Não fosse o chef Paulo Queirós, proprietário do espaço, um verdadeiro defensor da doçaria conventual portuguesa. Um trabalho de «investigação, experimentação de várias receitas e ingredientes, com paixão pelo produto e pela história. Foi uma procura a dois (com Eduarda Antunes), tem muito tempo de dedicação e paixão.
Houve uma clara evolução ao longo deste ano, sendo actualmente um restaurante de "conforto", uma gastronomia assente na tradição recheada de lembranças de outros tempos. Oferece aos clientes uma satisfação que os convida a voltar. É um prolongamento da casa de todos e de cada um», afirmou Paulo.
Equipa de sala e cozinha |
Paulo Queirós está a realizar um Mestrado em "Alimentação, Fontes, Cultura e Sociedade", na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Tirou o curso de cozinha na Escola de Vidago e Gestão Hoteleira na Escola de Hotelaria e Turismo de Coimbra. Passou por vários hotéis e restaurantes até abrir o Cordel no final de 2013. Tem a companhia de Eduarda Antunes, com quem casou. É ela que confeciona as sobremesas. Tirou a licenciatura em Engenharia Alimentar pela Escola Superior Agrária de Coimbra e fez uma pós-graduação em “Gestão da Qualidade” na Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica do Porto.
Na fotografia está a equipa de sala e cozinha que nos recebeu: Carla Garcia (top 5 no Schweppes Challenge - um concurso nacional que promove os profissionais de bar); Jorge Silva (conquistou a medalha de ouro em "serviço de mesa e bar", no Campeonato Nacional das Profissões de 2014); chef Paulo Queirós; Maria João Correia e Alexandra Nunes.
A ordem da degustação no dia de provas não é esta que apresento. Na realidade começámos com o "Cordel de doces", no qual estava uma sobremesa (a primeira que sorriu para mim) que me deixou encantada. Já vão perceber qual foi. Este bolo de bolacha é confecionado com bolacha embebida em café e creme de gemas misturado com café, e é delicioso. Nada enjoativo, gostei.
O leite-creme é a escolha do meu irmão nas degustações em que tal iguaria se apresente. É feito com «gemas cozidas em leite com açúcar e um pouco de farinha, até obter um creme delicado aromatizado com casca de limão«». O chef Paulo cedeu gentilmente esta receita para confecionarem em casa, fiquem atentos. Custa 3€ no restaurante.
À primeira colherada: meu deus, este pudim provoca uma verdadeira sensação de felicidade. Disse ao chef Paulo que este foi, sem dúvida, um dos melhores pudins que já provei até hoje! Uma maravilha que devem conhecer! Soberbo, a começar pela textura, e um sabor inesquecível, uma iguaria conseguida apenas com gemas e calda de açúcar. Foi este doce que me chamou a atenção no "Cordel de doces". Qualquer sobremesa depois desta fica em segundo plano. Se soubesse teria finalizado com este Pudim das Clarissas de Coimbra, pois foi "injusto" para os restantes doces.
Por acaso (ou não), esta é «a sobremesa preferida» do chef Paulo, «pela textura aveludada. Escolhe também «os Pastéis de Santa Clara, pela história que encerram enquanto doces conventuais».
Também é a sobremesa mais difícil de confecionar «pela simplicidade dos ingredientes que ou são conjugados no ponto ou não temos pudim», explicou ainda. Foi acompanhado por um sorbet de tangerina, para quem prefere contrastes frescos e ácidos num casamento com a doçaria conventual. Preço: 4€.
Por 10€ podem desfrutar destas cinco sobremesas, que servem duas pessoas, a não ser que também sejam muito gulosos como eu. Neste "Cordel de doces" estão: bolo de noz com doce de ovos, papo de anjo, Pudim das Clarissas de Coimbra, bolo de bolacha, suspiro de chocolate e sorbet de framboesa. O bolo de noz é feito com nozes moídas batidas com gemas e açúcar,
cozido em forno moderado, é depois coberto com doce de ovos. Os papos de anjo são confecionados com gemas batidas, depois de cozidos são embebidos em calda de açúcar. Os restantes doces foram descritos anteriormente, exceto o suspiro de chocolate, que leva camadas de suspiro e creme de chocolate.
Finalizámos com outra maravilha: os Pastéis de Santa Clara. A massa é feita à base de manteiga e farinha, depois são recheados com doce de ovos e amêndoa. São os melhores que provei até hoje! Disse isso ao chef, que me explicou a reação dos clientes: «a diferença mais notória é na expressão facial de quem os prova e compara com "os outros" e a vontade de comer mais do que um». Deve ter sido isso que fiz, traduziu-se em sorrisos. Existe "expressão" melhor ao degustar qualquer doce? Dois pastéis custam 2,20€.
Paulo Queirós promete «continuar a festejar os dias com aromas e sabores, elevar ainda mais a qualidade do Cordel e pretende abrir em breve um novo espaço, também em Coimbra, com um conceito mais cosmopolita, um local para petiscar, beber vinho, comer um bom hambúrguer e beber um gin». Quando forem a Coimbra e quiserem um festim para o palato, visitem este restaurante. Encontram o melhor Pastel de Santa Clara que já provei em Coimbra e sobre o Pudim das Clarissas... já tenho saudades dessa preciosidade, penso que isso diz tudo!
Morada e contactos:
Rua Salgueiro Maia, 3, 2ª Travessa, Coimbra
Telefone: 239 093 542
Fotografia: © Diogo Agante